por Mariana Di Lello *
Como diz o ditado popular, aquilo que não é visto, não causa reação aos nossos sentimentos. É dessa forma que as crianças americanas têm sido manipuladas por pais e professores na conhecida terra do "Tio Sam". É fato que os Estados Unidos têm levado a fama de câncer da humanidade por diversas razões, que vão desde a invasão do Iraque até o "desacordo" com o Tratado de Kyoto, porém, o que me chama a atenção é a forma de como as crianças têm sido vítimas de um governo fracassado e imprudente.
Conversando com alguns pré-adolescentes nos Estados da Virginia e da Pensilvânia, percebi que nenhuma questão de cunho politico e social tem sido discutida em casa ou em sala de aula. Às vésperas das eleições presidenciais e após um interminável governo Bush, era de se esperar um grito de "basta" vindo da nova geração. Mas, pelo visto, não há perspectivas que abranjam um universo além daquele imposto pelo "velho escalão". Pelo contrario, o que eu tenho notado é um patriotismo surreal, que continua predominante nos ideais do norte-americano e que insiste em perpetuar.
Me lembro que aos 10 anos de idade fui à Avenida Paulista para participar de uma manifestação que reinvindicava o impeachment do Presidente Collor. Mesmo tão jovem, eu entendia e me sentia tocada ao ver, não só a minha familia, mas muitas outras, perdendo um patrimônio construído com sacrifício e dedicação. Depois do 11 de Setembro, o americano vem enfrentando o desemprego em massa, a inflação galopante, a desvalorização do dólar e a queda no setor imobiliário. Mesmo com todos essas dificuldades, eu não posso negar que os Estados Unidos ainda são um país de oportunidades, mas além da questão financeira, existem as questões sociais e humanas.
Nos subúrbios das grandes cidades, onde existe a maior concentração de pessoas com alto poder aquisitivo, as escolas têm como principal objetivo a inclusão de filhos de imigrantes, sendo eles legais ou não. A proposta parece surtir efeito e, o que se vê, são crianças e adolescentes aceitando uma miscigenação inevitavel e agregando diferentes valores. Entretanto, em uma manhã de sábado, caminhando em um parque de Ashburn -VA, conheci uma criança que é fruto do casamento entre um Iraquiano e uma americana. Quando perguntei ao menino sobre o seu relacionamento com os outros colegas, ele se calou. Mas, seu olhar de decepção e tristeza diziam mais do que palavras e, diante daquela situação, eu me questionei se existe realmente a chance deste País ser olhado pelo resto do mundo com outros olhos. Com uma fisionomia de "interrogação", o garoto se foi, guiado pela injustiça e desigualdade camufladas na terra das "oportunidades".
Retirar as tropas do Iraque e sancionar uma lei que proteja os imigrantes ilegais são projetos de um governo hipócrita e imoral. Eu ainda vou mais além. Vejo essas atitudes como uma maneira de desviar os olhos da humanidade daquilo que não deve ser visto. E essa é a definição de patriotismo no "dicionário" dos norte-americanos. Patriotismo esse que envenena as novas gerações e não mede esforços para manter o título de país desenvolvido.
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* jornalista
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